terça-feira, 11 de janeiro de 2011

SONOPLASTIA CERVEJEIRA (ZITO-AMBIENTAÇÃO)



Nos vários processos que envolvem a produção de cerveja, a fermentação e a maturação devem ocorrer em silêncio. No máximo, poderemos aceitar o cantarolar do mestrecervejeiro como uma canção de ninar... Onde houver uma cervejaria produzindo cerveja junto a uma pista de dança, tenhas certeza de que essa cerveja estará sendo agitada. Aqui, a bateria duma escola de samba difere bastante do soar duma música clássica.

Entre vários assuntos relacionados com cerveja, pouco se fala da harmonização com música (a “arte das musas”). A etiqueta da cerveja nos ensina a selecionar e a acondicionar o rótulo certo; a regrar a temperatura e o copo adequados; e até à mais indicada escolha duma boa zitoharmonização gastronômica. É fato que, para esses assuntos, temos satisfatória bibliografia. Porém, talvez por existirem poucos amantes de cerveja que sejam tanto quanto apreciadores de boa música; ou também, por esses mesmos não considerarem esse assunto relevante, acabou por ser pouquíssimo explorado.

Num primeiro momento, a “Sonoplastia Cervejeira” pode soar como uma excentricidade. Todavia, devemos tratar esse assunto com a mesma seriedade com que tratamos os demais tópicos cervejeiros. Se a harmonização de cerveja com gastronomia – ou, simplesmente, zitogastronomia - é importante, tanto que podemos segmentá-la na devida combinação com queijos, por que pensar que a específica cerveja que estivermos bebendo será harmoniosa com qualquer música? Certamente, as qualidades sensoriais de cada estilo de cerveja nos remetem a experiências sonoras únicas.

A harmonização de cerveja com música – que o Clubier entitula de “harmonizasom” – chamemos nós, não de harmonização, mas de ambientação, ou seja, a sonoplastia duma degustação. Assim, como a decoração de um ‘Pub’ nos remete a uma atmosfera cervejeira, a música emoldurará sonoramente a referida experiência multisensorial.

Visando adequar as específicas emoções que os principais estilos musicais causam nos ouvintes com as características organolépticas de cada tipo de cerveja, livres de lembranças ou sentimentos individuais, apontamos, resumidamente, as principais sonoplastias cervejeiras (zito-ambientações):


Música Romântica

Quem nunca curtiu uma reunião dançante agarrado em seu par ao som de baladas? A música lenta nos remete momentos de paixão - correspondidas ou não! Então, a melhor cerveja para esses momentos é uma com aroma e sabor marcantes. Como uma boa Barley Wine.

Rock (do Clássico ao Metal)
O bom e velho “Rock and Roll”! Som que lembra pedras rolando; composto de solos de guitarra e bateria em quatro tempos. Acelera e revigora ânimo de seus apreciadores. A cerveja, bebida oficial dos roqueiros, pode variar em dois momentos: uma refrescante para matar a sede e; uma mais forte para acompanhar o pesar do som. Traduz-se desde uma boa cerveja Pilsen ou de Trigo, para refrescar; a uma Bock, ou Double Bock para esquentar tudo!

Samba (com variações do Pagode e Axé)
No país do carnaval, o samba não poderia faltar. Se cerveja é a bebida da alegria, o samba é a música do sorriso no rosto. Baseada numa cadência marcada em batucadas vibrantes, e em melodias simples, esse ritmo deixa ninguém parado. Os melhores tipos de cerveja que compõem esse espírito são os tipos leves, e com aromas e sabores mais discretos. A alegria faz com que as pessoas bebam um pouco a mais, assim a cerveja não pode ser muito marcante como as populares American Lagers.

Bossa Nova (Jazz e Lounge ao mesmo tempo)
Se existe o Samba, no Brasil também existe a Bossa Nova. Diz-se que o modo de cantar baixinho surgiu, nas madrugadas fluminenses, entre as paredes finas dos apartamentos de Copacabana. Assim, precisamos de atenção para apreciarmos esse estilo musical delicado. A cerveja então, deve acompanhar esse ritmo. E, entrando no pique dos estados de consciência alterados à base de uísque, ou outros destilados bastante alcoólicos, harmonizamos com cervejas equilibradas e bastante alcoólicas. Uma Bitter Ale representa bem essas qualidades.

Hip Hop (do RAP ao Funk)
Ritmo e poesia, com a força da música negra. Estilo musical de atitude, com uma batida forte, que, geralmente, exprime uma mensagem em letras compridas. Nos remete a ouvir a manifestação e “sacudir o esqueleto”. Esse estilo musical nos faz lembrar a desigualdade social dos afrodescendentes, ao passo que nos alegra com seu balanço único. A melhor tradução em cerveja para apreciar esse estilo vai duma Stout a uma Porter.

Reggae (do Ska aos ritmos latinos)
Aqui rege a mistura entre o ritmo e a curtição. Ao mesmo tempo relaxante e incendiário, o Reggae traz uma atmosfera instigante. A cerveja dessa tribo, então, tem que ser diferente, o que podemos traduzir ao estilo frutado. Beba até o último gole das cervejas frutadas.

Música Religiosa (do Gregoriano ao Gospel)
Trazem letras espirituosas que geralmente são ecoadas em templos, sejam eles sagrados ou profanos. Os bons cristãos cantam a divisão do pão - que nos lembra a cerveja: o pão líquido -, e do vinho - sangue de Cristo – que figura a busca por um lugar no céu. Assim, é preciso se libertar do corpo, saindo da realidade, atingindo o mais alto grau de meditação, pois a música religiosa traz esse espírito. Poder beber moderadamente uma cerveja encorpada, com bastante malte, e bastante alcoólica representa toda essa espiritualidade. A Tripel, estilo complexo e forte, é o que melhor acolhe esse espírito. Mas também, nem sempre o culto é forte. Às vezes devemos apenas celebrar a nossa fé. Para isso, cervejas Abadia ou Christmas Beer são perfeitas até no nome!

Música Regional (do Sertanejo ao Vanerão) 
Cada região desse vasto Brasil tem a sua representação musical. Entre os vários estilos citados, como Samba; Axé; e Bossa Nova, faltou listarmos os estilos dos brasileiros das áreas rurais. Musicalmente, expressam o seu cotidiano em versos simples versados em melodias que vão da tristeza à alegria. Assim, as cervejas mais simples, que apuram os sabores dos ingredientes da terra, configuram-se na melhor representação dessas canções tradicionalistas. Podemos eleger desde as cervejas orgânicas às frutadas ou de Trigo.
Lembrando que as músicas típicas que adornam as tradicionais festas alemãs já tem a sua cerveja festiva: Oktoberfest Bier.


A máxima para qualquer combinação com cerveja é respeitar as percepções e gostos individuais, assim como se respeita o gosto pela cerveja preferida. Sobretudo, existem opiniões convergentes dentre as experiências de cada degustador. E, essas concentricidades se traduzem em linhas gerais de orientação. Então, experientes, já! Abras a tua música e toques a tua cerveja predileta!


P.S.: Durante essa matéria, degustamos uma I.P.A. ao som de Ozzy Osbourne!


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